Você está almoçando, quando de repente mastiga algo mais duro do que o normal. Quando você vai ver é um dente quebrado.
Já aconteceu com você?
Muitas vezes quando isso acontece bate aquele desespero e várias dúvidas começam a surgir. Imediatamente, você lembra da gente: dentista!
Parece brincadeira, mas é uma situação corriqueira e até constrangedora. Em eventos sociais, um jantar de negócios ou um primeiro encontro, ter que lidar com um dente quebrado é um desafio.
Não posso esquecer de falar das crianças: os acidentes na escola, de bicicleta, os tombos…. Enfim, é muito mais comum do que pensamos.
Mas depois que aconteceu só resta ter que resolver o problema.
Pensando em te ajudar resolvi criar o manual do dente quebrado, um guia pra você saber o que pode ser feito após o incidente.
Neste manual você vai entender:
- Por que o dente quebra?
- Classificação dos dentes quebrados
- Tratamentos que podem te ajudar
- Riscos de manter um dente quebrado na boca
- Como prevenir
Gostou do que vem por aí? Então já compartilhe com seus amigos para que cada vez mais pessoas possam conhecer o manual do dente quebrado.
Se você esta aqui porque o dente de alguém que você conhece saiu completamente da boca, não perca tempo e clique aqui.
Por que o dente quebra?
Quebrar um dente é um acidente muito comum e pode acontecer com qualquer pessoa em qualquer idade: crianças, adolescentes, jovens e idosos.
Uma palavra muito usada por nós dentistas pode ajudar a entender o porque o dente quebra: trauma. Não estou falando de situações que aconteceu que provocaram lembranças ruins, apesar de que quebrar um dente não é nada legal, mas sim de um evento que causa injúria ao dente e aos tecidos vizinhos. (gengiva, osso, ligamento periodontal)
Vamos entender o significado:
Por definição, o traumatismo dentário caracteriza-se como qualquer lesão ao órgão dental, de origem térmica, química ou física, de intensidade e gravidade variáveis e cuja magnitude supera a resistência encontrada nos tecidos ósseos e dentários. (1)
Portanto, o amendoim, o caroço de pipoca e azeitona não são os únicos vilões desta história.
Você sabia?
O traumatismo dentário é mais comum em crianças e pré-adolescentes de 07 a 12 anos, sendo mais prevalente em meninos. Os acidentes normalmente ocorrem em brincadeiras, esportes ou lutas. (2)
Classificação dos dentes quebrados
Para entender melhor o que acontece em seu dente quando ele está quebrado, nós utilizamos uma classificação de traumatismos dentários, que para facilitar a sua compreensão vou chamar de classificação dos dentes quebrados.
Um trauma pode prejudicar apenas o dente isoladamente ou o dente e as regiões vizinhas. Portanto, vamos iniciar com os traumatismos apenas em dente:
- Fraturas de esmalte: restringe-se apenas em esmalte dental, localizado na camada mais externa do dente;
- Fraturas de esmalte e dentina: compreende a região de esmalte e dentina, atinge a camada externa e a porção mais interna.
- Fraturas de esmalte e dentina com exposição: nesses casos a fratura atinge a polpa, estrutura responsável pela nutrição e vitalidade do dente.
- Fratura corono-radicular: este tipo de fratura divide o dente em 2 partes, coroa e raiz.
- Fratura radicular: o dente se parte na região da raíz.
O dente é formado por 3 estruturas: o esmalte, a dentina e a polpa.
O esmalte é mais superficial, rigído e responsável por proteger o dente. A dentina é mineralizada porém mais mole que o esmalte e tem comunicação com a polpa. A polpa é o coração do dente, leva nutrientes e responde aos estímulos externos como calor e frio.
Segue as imagem para explicar a classificação dos dentes quebrados:
Existem ainda as fraturas que comprometem os dentes e as regiões vizinhas, estes tipos de traumas podem apresentar maior gravidade no tratamento.
- Fraturas alveolar
- Concussões
- Sub-Luxações
- Luxações Laterais
- Extrusões
- Intrusão
- Avulsão
Entenda os tratamentos para as fraturas de dentes
Você não parou para contar, mas ao todo são 12 tipos de dentes quebrados! Os 2 infográficos apresentam a severidade dos traumas em ordem crescente. É importante saber que em apenas um caso pode acontecer de um dente sofrer uma fratura em esmalte e o dente vizinho uma intrusão, como também um mesmo dente sofrer 2 tipos de traumas.
Portanto, o tratamento vai depender de um diagnóstico preciso guiado por um exame clínico, radiografias, testes de vitalidade dos dentes e materiais para executar a técnica correta.
Fraturas em esmalte e dentina sem exposição pulpar
Fraturas em esmalte e dentina vão ter praticamente o mesmo tratamento: restauração em resina composta ou colagem do fragmento quebrado.
A restauração em resina composta é feita por um material que imita a cor dos dentes e devolve ótima estética e função quando bem executada. Nos consultórios as restaurações são os procedimentos mais executados, no caso dos dentes quebrados o objetivo será devolver a anatomia do dente, procurando restabelecer os detalhes da natureza.
Um trauma muito comum acontece no processo de erupção dos incisivos centrais permanentes (dentes da frente).
Por que?
Pelo fato de se posicionarem na região frontal da face, estão portanto na direção do movimento corporal, tendendo a receber maior impacto que os demais dentes. Além disso, eles são um dos primeiros dentes a irromper na arcada, fato que os expõe a riscos na incidência do traumatismo. (3)
Os casos mais comuns são as fraturas em ângulo, chamadas por nós de classe IV.
Outro problema ocasionado pelos traumas é a perda de um pedaço do dente, chamado de fragmento, caso seja o seu caso leia com bastante atenção: GUARDE O FRAGMENTO.
Quando você leva o fragmento para o dentista existe grande chances dele se adaptar ao dente e então é feita apenas a colagem do fragmento com cimentação adesiva. Em alguns casos o fragmentos se parte em outros menores impossibilitando a cimentação.
A resolução dos casos de fratura em esmalte e dentina tem bom prognóstico, ou seja, terá uma ótima evolução ao longo dos anos.
Fraturas em esmalte e dentina com exposição pulpar
Se você ou seu filho quebrou um dente e viu um pontinho avermelhado aparecendo, você pode ascender um sinal de alerta. Com toda a certeza aconteceu o que chamamos de exposição pulpar.
Além de poder ser visto visualmente, fraturas com exposição apresentam sintomas de sensibilidade ao frio e calor.
Antes de dizer o que fazer em casos assim, tenho que dividir em 2 categorias:
- dentes com rizogênese incompleta ( dentes em que a formação da raiz ainda não esta completa)
- dentes com rizogênese completa (dentes com raiz formada por completo)
O tratamento indicado para dentes com exposição pulpar com rizogênese incompleta em crianças, vai depender do tamanho da exposição.
Por que?
Porque nós temos microexposições pulpares como também média e grande exposições pulpares.
O tratamento para as microexposições consiste em colocar uma medicação anti-inflamatória na polpa e realizar o capeamento pulpar direto, procedimento em que um curativo é colocado sobre a polpa que ajuda a promover a sua regeneração.
Este procedimento pode manter o dente vivo, ou seja, impede que a polpa necrose (morra), evitando o tratamento de canal do dente em questão. Esta abordagem tem um bom prognóstico.
Porém, em médias e grandes exposições o tratamento indicado é fazer a pulpotomia, procedimento que extirpa a polpa do dente, e posteriormente é feita a medicação intracanal.
Tem casos de exposição da polpa com a mortificação pulpar. O procedimento indicado é sanificar a raíz e colocar um curativo de demora a base de hidróxido de cálcio, este deve ser trocado de tempos em tempos.
Como estamos tratando o dente com formação incompleta da raiz, não pode ser feito o tratamento endodôntico (tratamento de canal) até que a raíz tenha sua total formação. Portanto, nesses casos a medicação intracanal deve ser trocada periodicamente até a rizogênse completa.
Nos casos com exposição pulpar com rizogênse completa, o tratamento indicado é pulpotomia e tratamento endodôntico do dente em questão.
Depois de tratar as exposições os dentes devem ser restaurados.
O acompanhamento radiográfico periódico é essencial em casos de trauma, visto que podem ocorrer alterações ao longo do tempo.
Fratura corono radicular
Para melhor entendimento, vamos dizer que nesse tipo de fratura o dente se parte em dois, dividindo entre a coroa (parte que vemos do dente) e raíz. A coroa pode ficar presa apenas pela gengiva ou pode se soltar totalmente.
A abordagem clínica após este tipo de trauma é remover o fragmento e realizar os procedimentos em casos de exposição pulpar, respeitando o tipo de rizogênese: incompleta ou completa.
Após resolver o problema da exposição pulpar, a solução para repor a coroa do dente é verificar se o fragmento pode ser cimentado ou se é necessária uma solução protética com coroas de porcelana, onlays ou overlays.
Em dentes com rizogênse incompleta a solução protética deve ser provisória até que a raiz se forme completamente.
O prognóstico para este tipo de fratura pode ser duvidoso.
Fratura de raiz
O dente pode sofrer fratura na região de raíz e a coroa pode ficar aderida ao periodonto (gengiva) ou também ser perdida no momento do trauma.
Para facilitar a abordagem clínica nós dividimos a raiz em 3 partes:
- terço cervical
- terço médio
- terço apical
No caso do fragmento estar preso a gengiva ele deve ser posicionado e deve ser feita uma contenção rígida, procedimento que une o dente quebrado aos dentes vizinhos, esperando o tempo de 90 dias. Durante este período o paciente deve ser avaliado para verificar os sinais, sintomas e a vitalidade do dente.
Na ausência de vitalidade pulpar ou na presença de infecções ou lesões o canal deve ser tratado até a área de fratura. Quando ocorre fratura no terço apical, após a realização do tratamento endodôntico o fragmento de raiz remanescente deve ser removido.
A abordagem para fragmentos que não podem ser reposicionados, deve seguir o tratamento para dentes com exposição pulpar e depois realizar o procedimento protético.
Os traumas de raiz é pouco comum em dentes com rizogênse incompleta, porém deve seguir a mesma abordagem de preservação do dente descrita nos procedimentos para exposição pulpar.
Entenda os tratamentos para as fraturas de dentes e regiões vizinhas
Fratura alveolar
Esses casos envolvem acidentes ou traumas mais sérios. O segmento ósseo dos dentes envolvidos está com mobilidade e os dentes em diferentes posições.
Num atendimento emergencial os dentes devem ser reposicionados e feita uma contenção rígida e deve permanecer por no mínimo 90 dias. O paciente deve ser encaminhado a um buco-maxilo para avaliar a possibilidade de cirurgia.
Este tipo de atendimento emergencial é ideal ser feito em ambiente hospitalar por um buco-maxilo porque a severidade pode ser grave além dos sintomas dolorosos, inchaço e sangramento.
Após a estabilização inicial o paciente deve ser monitorado periodicamente para avaliar a condição dos dentes.
O prognóstico é variável e duvidoso, porque ao longo do tempo os dentes podem perder a vitalidade ou sofrer processo de reabsorção
Concussões, Sub-Luxações, Luxações Laterais, Extrusões e Intrusão
Vou agrupar todos estes tipos de trauma numa mesma categoria em virtude do tratamento ser semelhante, apesar de terem diferenças nos sintomas.
- concussão: sensível ao toque, ausência de mobilidade e sem sangramento.
- sub-luxação: sensível ao toque, apresenta pequena mobilidade porém sem deslocamento e sangramento do sulco gengival.
- luxação lateral: sensível ao toque, apresenta mobilidade e deslocamento e pode ser difícil o reposicionamento.
- extrusão: dente apresenta-se abaixo da borda dos dentes do lado, muito sensível ao toque e com bastante mobilidade.
- intrusão: dente está “para dentro”quando comparado aos vizinhos, ausência de mobilidade e sem sensibilidade.
O procedimento padrão é realizar uma contenção semi-rígida ou flexível, quando o dente estiver fora de posição o correto é tentar ajustar o posicionamento e depois fazer a contenção.
Num primeiro momento deve-se controlar os sintomas e monitorar semanalmente a evolução do caso. Se durante o processo de avaliação dos dentes houver necrose da polpa, o dente deverá ser tratado o canal.
Após a estabilização do quadro, os dentes fora de posição podem ser alinhados com uso de aparelho ortodôntico.
Em todos os casos de trauma o paciente deve ser avaliado periodicamente.
Avulsão
É o caso mais sério dentre traumas dentais. A avulsão acontece quando o dente sai totalmente do alvéolo e normalmente acontece depois de acidentes, brigas ou lutas.
Devido a importância do tema e das várias dúvidas que surgem em relação a este tipo de acidente eu preparei um super infográfico explicando em detalhes sobre este problema.
[INFOGRÁFICO] Avulsão Dentária: Saiba o Que Fazer Quando o Dente Sai Da Boca e Evite o Desespero.
Riscos de manter um dente quebrado na boca
Podemos dizer que o risco é bem variável. E você pode me perguntar:
Por quê?
Olha a resposta é simples. Você percebeu que existem vários tipos de dentes quebrados e o risco aumenta conforme a gravidade do trauma.
Dentes quebrados apenas em esmalte e dentina tem resolução mais simples, mas fugir do dentista e não restaurar o dente, pode provocar sensibilidade e até a inflamação do canal a médio e longo prazo. Outro problema é que a superfície do dente fica rugosa e retém mais placa e sujeira, o que acaba facilitando o desenvolvimento de cáries e manchas.
Os demais traumas, dificilmente são ignorados pelos pacientes, justamente porque eles vem acompanhado de dor, inflamação e desconforto. Porém, negligenciar o atendimento fatalmente levará a perda ou um quadro de inflamação e infecção do dente e das áreas envolvida.
Portanto, não brinque com os dentes quebrados por mais simples que seja o tipo de fratura. Procure sempre um dentista para te ajudar a resolver o problema.
Como prevenir?
É claro que acidentes são imprevisíveis.
Porém, grande parte dos traumas ocorrem em atividades de risco como: esportes radicais, lutas marciais, brincadeiras na escola, e etc.
A prevalência dos acidentes são mais comuns em crianças e pré-adolescentes, justamente porque estão expostos a maior riscos. Uma boa medida de prevenção é estimular o uso de equipamentos de segurança, como o capacete e o protetor bucal.
Os adultos praticantes de atividades físicas e esportes de contato devem seguir as mesmas recomendações.
Existem ainda pessoas que tem dentes mais frágeis e que quebram com maior facilidade, como também aqueles que tem problemas de bruxismo e apertamento dental que tornam os dentes mais susceptíveis a trincas e fraturas.
A melhor maneira de prevenção para estes casos é o diagnóstico precoce do dentista e a execução de tratamentos preventivos.
A divulgação deste conteúdo ajudam a ensinar as pessoas sobre os traumas e seus efeitos, por isso não deixe de compartilhar com o maior número de pessoas as informações deste artigo!
Conclusão
Ao final deste artigo você percebeu que existem vários tipos de dentes quebrados, traumas simples e complexos. Porém nenhum deles deve ficar sem o devido tratamento.
Compreender a extensão, o tipo de fratura e a associação ou não de demais dentes e regiões vizinhas ajudam na obtenção de um correto diagnóstico.
As situações de traumas decorrentes de acidentes podem provocar desespero e preocupação, entretanto manter a calma e procurar ajuda especializada auxilia no bom prognóstico do caso.
É importante reforçar que visitar o dentista com regularidade pode prevenir uma séries de problemas bucais em estágio inicial e evitar os riscos de maiores problemas.
Portanto, agora você já conhece o Manual do Dente Quebrado.
Não se esqueça de compartilhar essas informações com seus amigos ou com alguém que comentou que está com dente quebrado.
Qualquer dúvida eu estou a disposição para te ajudar, basta apenas comentar aqui embaixo ou me procurar pelas redes sociais.
Grande Abraço,
Lembre-se: Sorrir faz Bem!